Thaís Russomano

Pacheco - uma ilusão coletiva

Por Thaís Russomano

Médica especializada em Medicina Espacial


Pacheco só poderia ser mesmo concebido por um gênio da literatura. Eça de Queiroz nos legou obras maravilhosas, repletas de personagens interessantes e narrativas criativas - muitas delas atemporais, passíveis de refletir uma situação do século 19 aos dias atuais. E Pacheco foi um caso desses!

 
Personagem do livro A correspondência de Fradique Mendes, ele aparece nas cartas para Mollinet. No início de seus estudos, Pacheco chamou atenção de seus colegas e professores da Universidade de Coimbra apenas por carregar livros volumosos, enquanto caminhava de um lado para o outro.

 
Poucas coisas mudaram com o tempo. Pacheco, sempre calado e discreto, passou, porém, a sentar-se mais à frente, tornando-se mais observável. Em alguns momentos, ele ficava com o olhar vago e o semblante sério, o que era interpretado como um reflexo de sua rara inteligência.

 
Todos também ficavam atentos quando Pacheco folheava algum de seus volumosos livros - gesto que poderia denunciar que algo de extrema importância estava a se passar. Não custou muito para Portugal inteiro reconhecer o grande talento desse homem sem igual - o melhor produto intelectual de Coimbra dos últimos sabe-se lá quantos anos. De diploma na mão, ele foi deputado, ministro e então primeiro-ministro. Quando Pacheco morreu, o país estremeceu de norte a sul! E a pátria chorou tanto que Portugal inundou-se em lágrimas.

 
Mas essa foi, em verdade, uma triste história. Nas cartas de Fradique para Mollinet, viu-se, ao final, que o suposto líder nunca dera voz às aspirações do povo e que sua inteligência era medíocre. Pacheco fora apenas (e tão somente) uma ilusão coletiva! O homem inventado passou a ser lembrado como realmente era - alguém que viveu sem dizer uma palavra ou defender uma teoria ou realizar qualquer feito!

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